No dia 21 de setembro, o SEESP (Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo) completou 88 anos de fundação, e a comemoração veio em forma de trabalho, com a implantação do Núcleo da Mulher Engenheira (NME). O lançamento da mais nova área de atuação do sindicato aconteceu em evento híbrido na sede, na capital paulista.
O evento contou com a participação da conselheira da APM Marilene Mariottoni que é engenheira civil. Ela foi, em 1984, a primeira presidente da Associação de Engenheiros de Mogi Mirim, município em que até então jamais uma mulher havia comandado uma entidade de classe.
Em 1985, participando do grupo de trabalho do Confea sobre a mulher na área tecnológica, colocou em pauta a nomenclatura da profissão nos diplomas, que vinham exclusivamente no masculino. “Recebíamos nossos diplomas como ‘engenheiro Marilene, engenheiro Silvana’. Nós teríamos que ter ‘engenheira’, e com o tempo conseguimos isso”, contou.
Mariottoni foi vereadora e, em 1997 e 1998, a primeira mulher a presidir a Câmara Municipal de Mogi Mirim. Também foi pioneira em presidir o Departamento do Estado de São Paulo da Associação Brasileira de Engenheiros Civis. “E na Associação Paulista de Municípios, em que estou desde 2009, fui a primeira mulher a presidir o Conselho Deliberativo. Coube a mim o papel de puxar a fila para que outras mulheres participassem. Precisamos ter mais mulheres na engenharia, mais mulheres na política”, ressaltou.
“Homens e mulheres devem estar juntos, trabalhar juntos, para que nós possamos resolver as questões da sociedade”, finalizou.
O novo núcleo tem como missão lutar, defender, representar, apoiar e proporcionar orientação às engenheiras, com o objetivo de fortalecê-las e empoderá-las para serem protagonistas no trabalho e na sociedade.
“É uma honra este lançamento hoje, dia em que o sindicato faz 88 anos. Quero demonstrar meu apreço e confiança de que o núcleo terá uma grande participação em todo contexto nacional e internacional”, saudou o presidente do SEESP, Murilo Pinheiro, na abertura do evento.
A atividade contou com mesa-redonda composta pela desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) – 2ª Região, Ivani Contini Bramante; a engenheira pioneira na luta por espaço para as mulheres na profissão e ex-vereadora em Mogi Mirim, Marilene Mariottoni; a diretora do SEESP e coordenadora do NME, Silvana Guarnieri; e a coordenadora do Núcleo Jovem Engenheiro do sindicato, Marcellie Dessimoni.
Guarnieri destacou que ao longo de seus 38 anos de carreira viu a participação da mulher na profissão e no sindicato se ampliar. “Foi uma evolução, mas ainda é proporcional ao número de engenheiras formadas”. De acordo com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), as mulheres na engenharia são ainda apenas 19% do total de profissionais registrados no País, que atualmente passam de 1 milhão.
Mais mulheres na engenharia é luta vital do NME. “E qual é a dificuldade? Ela ser respeitada como profissional”, frisou Bramante em sua fala. A desembargadora recordou que o curso de engenharia foi instaurado no Brasil há 229 anos, mas apenas em 1917 é que houve a primeira mulher formada engenheira.
“Temos essa árdua luta de inserir a mulher no mercado de trabalho. Ela que tem ainda a dupla jornada, cuida da casa, dos filhos. Por isso a importância deste núcleo, para que se avance a luta pela afirmação da mulher em todas as áreas”, ela pontuou.
Bramante apresentou a Convenção nº 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre violência e assédio, e evidenciou que as vítimas são os mais vulneráveis e, dentre eles, estão as mulheres, “devido a nossa estrutura de sociedade, que ainda é patriarcal”, afirmou.
Para ela, a normativa deve ser colocada em prática, sobretudo nas escolas e universidades, para assim cessar a violência, discriminação e assédio no ambiente do trabalho. “A maior parte das dificuldades das mulheres que vem até o judiciário é a questão do assédio. É muito grande o número de processos que tratam de discriminação e assédio da mulher no ambiente do trabalho”, disse.
Nesse sentido, Bramante sugeriu ao núcleo o desenvolvimento de uma cartilha sobre a comunicação não violenta, com base na convenção, sob a perspectiva de gênero no ambiente da engenharia. Também um compliance, conjunto de disciplinas que possa ser aplicado aos acordos coletivos que o SEESP negocia com empresas e representações patronais do Estado a fim de mitigar discriminação e valorizar a profissional mulher. Ainda, propôs a realização de congressos anuais sobre o tema e a formação de um núcleo assistencial interdisciplinar.
Ocupar espaços
“As mulheres podem ocupar espaços grandiosos, desde que elas queiram. O lugar da mulher é onde ela quiser”, externou Dessimoni. A coordenadora do Núcleo Jovem exaltou a formação da nova área do sindicato: “O Núcleo da Mulher Engenheira vem para discutir todos os pontos, mas principalmente a relação da mulher no mundo do trabalho”.
E comemorou: “esse lançamento no aniversário de 88 anos do SEESP é um presente para a categoria, para as mulheres, para a engenharia”.
“Temos um grande trabalho pela frente. Que possamos fazê-lo de forma séria, efetiva. Com o Núcleo da Mulher Engenheira forte, mais forte estará o sindicato, a engenharia; mais presente estaremos nas discussões da sociedade. Temos a chance de contribuir para um país melhor, o país que queremos”, atestou o presidente Murilo.
Fonte: Site da seesp, com texto de Jéssica Silva/Comunicação SEESP e fotos de Rita Casaro