Artigo: Plano preventivo para Defesa Civil para queda de árvores

Autores: Raquel Dias de Aguiar Moraes Amaral, Mariana Hortelani Carneseca Longo, Marcelo Fischer Gramani, Filipe Antonio Marques Falcetta e Sergio Brazolin

A queda de árvores nas cidades brasileiras é uma realidade que se repete todos os anos, e, por conta das mudanças climáticas que intensificam os eventos de chuvas e ventos, os transtornos para a população são inúmeros, desde perdas materiais até mesmo de vidas humanas (Figura 1).

Esta situação também é observada em fragmentos florestais e maciços arbóreos localizados em áreas ambientalmente sensíveis e declivosas, como nos morros, próximos a áreas urbanizadas. A elaboração e implementação de um Plano Preventivo para a Defesa Civil (PPDC) adequado às realidades do município é um importante instrumento de Gestão do Risco, possibilitando aos gestores públicos a adoção de medidas de prevenção e preparação
para antecipar-se a cenários prováveis de queda de árvores. A concepção de um PPDC está estruturada em 4 (quatro) etapas, que serão desenvolvidas de acordo com as particularidades de cada município (Figura 2).

Neste contexto, em parceria com a Defesa Civil do município de Santos desde 2020, o IPT está desenvolvendo um método e elaborando o PPDC para Queda de Árvores na porção insular do município de Santos, estabelecendo parâmetros que permitam a produção antecipada de alertas quando da previsão de eventos extremos, sobretudo relacionados a ventos ou rajadas de ventos intensas, que possam resultar em danos à vegetação arbórea e riscos à população e à infraestrutura.

Para subsidiar a elaboração deste PPDC uma série de dados foram analisados para busca do entendimento dos fatores relacionados a queda de árvores, e alguns deles estão listados e sintetizados, a seguir: Análise das quedas de árvores no município de Santos que possibilitou corroborar alguns dos principais fatores associados à queda de árvores e que podem ser divididos em três grupos; 1º – os fatores intrínsecos e que estão relacionados
ao ser vivo árvore, como as propriedades físicas e mecânicas do lenho e a resistência natural da espécie arbórea à biodeterioração; 2º – os fatores que se relacionam ao meio externo, como o tipo de solo, ventos e os organismos que se alimentam do lenho; e 3º – as ações antrópicas, como as podas inadequadas que descaracterizam e desequilibram a árvore e o plantio de espécies arbóreas em locais inadequados.

A espacialização destas ocorrências também possibilitou reconhecer os locais que apresentaram o maior Índice de Queda de Árvores (IQA) quando se leva em consideração
a densidade de indivíduos arbóreos existentes na arborização urbana do bairro e sua área, sendo aqueles localizados na porção sul: Gonzaga, Boqueirão e Ponta da Praia, com classe cinco para maior ocorrência de quedas (Figura 3).

Análises climáticas exploratórias de dados históricos de velocidade do vento e de rajadas de vento que buscaram associar às ocorrências de quedas de árvores da via pública e as relações entre as máximas velocidades de rajada observadas no dia e os eventos de quedas de árvores e galhos. A Tabela 1 relaciona as velocidades de rajada com o número de quedas em cada intervalo. O intervalo com maior número de registros é o que contempla máximas rajadas diárias entre 40 e 50 km/h.

Quando se faz uma análise por direção de origem da rajada máxima diária (Tabela 2), verifica-se que a maior parte das quedas de árvores ocorrem nas rajadas originadas na direção E-SE (leste-sudeste), seguida pelas rajadas originadas da direção S-SO.

Considerando a predominância da ocorrência de rajadas originadas de E-SE no município de Santos, era esperado que a maior parte dos eventos de quedas de árvore fosse registrado nesta direção de origem das rajadas de vento. O resultado que surpreende na análise realizada pelo IPT, no entanto, é o fato de que aproximadamente um quarto dos eventos tenha sido registrado nas direções SE-S e SO-O, sendo estas direções de vento não predominantes para o município. Esta situação torna as rajadas originadas de todo o quadrante sul críticas do ponto de vista da adoção de critérios preventivos junto à Defesa Civil do município.

A análise exploratória também possibilitou a separação dos eventos de quedas de árvores em escalas temporais menores, por exemplo, mensais ou por estações do ano, permitindo avaliar a sazonalidade das ocorrências. A Tabela 3 ilustra a separação dos eventos
por estação do ano.

A estação do ano onde ocorre o maior número de eventos de quedas de árvores é o verão, concentrando 43% do total dos eventos observados, contrastando com 27 % dos eventos que acontecem na primavera, 17% no outono e 13 % no inverno.

O PPDC para Queda de Árvores para Santos está sendo estruturado para ser operado em quatro fases, que são os Níveis de Operação. Cada nível contempla distintas atividades e ações de resposta para dada situação (Quadro 1). A duração do PPDC não tem um período
de vigência fixo, visto que foi estruturado para ser executado aolongo de todo o ano, independentemente da existência de período meteorológico crítico. As declarações
dos níveis de operação deverão ocorrer a partir da previsão de evento meteorológico adverso para vento ou ocorrências significativas de queda de árvores na cidade. Os níveis de operação, a partir do nível de observação até o alerta máximo, estabelece a graduação quanto ao atendimento à emergência, com base na evolução da situação local.

Pelos estudos realizados desde o início do projeto, de acordo com as informações disponíveis para o município de Santos, principalmente os dados meteorológicos e eventos com ocorrências de queda de árvores, foram definidos os critérios para entrada e saída (ou
retorno) dos níveis de operação (Quadro 2). Ressalta-se que na Etapa de Avaliação do PPDC, por meio da sistematização das ocorrências do período analisado, estes critérios
poderão ser revistos e reclassificados.

Até o final de 2023 o IPT pretende entregar ao município de Santos o documento conceitual do Plano Preventivo para a Defesa Civil para Queda de Árvores, que contemplará o Plano Operacional, o Plano de Comunicação e o Mapeamento das Áreas de Risco.

Os autores agradecem os profissionais da Defesa Civil de Santos, Coronel Daniel Onias Nossa, Pacita Lopez, José Carlos Turziani da Silva, Victor Arroyo da Silva Valle e Franco Cassol, pela parceria na execução do PPDC – queda de árvores, e as Secretaria Municipal
do Meio Ambiente, Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Secretaria de Governo de Santos por todo o apoio na realização dos trabalhos. Agradecem também as informações de vento disponibilizadas pela Praticagem de Santos e Aquasafe – Núcleo de Pesquisas
Hidrodinâmicas – NPH da Universidade Santa Cecília – Unisanta.